sábado, 10 de janeiro de 2009

A Farra dos estágios – II


Continuando o assunto sobre estágio...

Uma outra opção que o estudante tem são as chamadas “Feiras de Estágio”, no qual várias empresas se reúnem num evento para reunir estudantes em seus programas de estágio.

Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaasssssss...

Isso é apenas o que é passado para o publico, porque quando um estudante, normalmente, chega num stand, ele pergunta se na empresa há vagas para estágio no seu devido curso, e escuta o seguinte;

“No momento não há vagas em abertos, mas você pode estar fazendo o cadastro em nossa empresa, que assim que abrirem vagas, você poderá estar sendo selecionado”.

Depois dessas palavras, o estudante recebe todo tipo de bugiganga da empresa (canetas, adesivos, bolsas, etc.) mais o panfleto do site.

Falo isso por experiência própria, pois aqui no Rio de Janeiro, nesse ano de 2008, tivemos duas feiras que foram amplamente divulgadas pela imprensa, a da UFRJ e mais recentemente, a Mostra PUC.

Pó! Mas, se não há vagas, por que caralhos d’agua a tal empresa vai na feira?
Elementar, caro leitor!

Para divulgar sua marca em novos consumidores, ou seja, essa porra de feria de estágios é o maior CAO (mentira)!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Isso é só marketing para divulgar a empresa! Pode apostar. A gente acorda cedo, na maior boa vontade, percorre uma caralhada de estandes (vendo um monte de gostosas que não vamos pegar), pra que? Pra que? Pra ser garoto propaganda e consumidor de marcas, fora o dinheiro que movimenta o evento.

Porque acaba havendo consumo de produtos como alimentos, etc. Fora o consumo paralelo, como a passagem de ônibus que o cara gasta para se locomover. É foda, cara.

Mas, será que nenhuma empresa chama. Bom, há exceções.

Ontem me ligaram para uma entrevista hoje de manhã bem cedo, quando ligaram não me disseram pra que era, só me deram o horário, endereço e benefícios.

Posso dizer que a ajuda de custo era bem mais elevada do que um estágio normalmente dá, mais plano de saúde, alimentação e passagem (dificilmente um estágio dá tudo isso), porém nem tudo são flores, o estágio seria de oito horas por dia.

O engraçado é que a vaga era pra marketing, mas a moça que ligou disse que não tinha problema eu fazer Publicidade.

Como eu estou na merda, fui na entrevista como o combinado. Acordei bem cedo, e passei um perrengue no transito da manhã, mas cheguei na hora.

No local descobri de onde se tratava, era uma empresa que não vou dizer o nome, mas vou tentar situa-los, ela tem uns 70 anos de mercado, tinha lojas que agora fecharam e a empresa trabalha com vendas pela internet, pra dar mais dicas, sua fama veio por causa de catálogos... Se ligou?

Eles pegaram meu currículo na Mostra PUC, descobri isso também, como uma das opções que o publicitário tem, é trabalhar em algum departamento de publicidade que o cliente (lojas, empresas, etc.) tenha, achei que poderia ser o caso, e fiquei para a entrevista.

Ao entrar na sala, tive outra surpresa, e comecei a ter certeza que aquilo era um Titanic, a sala estava lotada, o que não é tão normal em entrevista de estágios (e sim em entrevistas de emprego), sentei numa cadeira para preencher a ficha que me deram (pra que? Eles já tinham meu currículo), e dei uma espiada na ficha do candidato ao meu lado, e constatei que seu curso era Administração. E achei mais estranho; “Como um cara que faz Administração concorre a mesma vaga de estágio que um cara que faz Comunicação?”. Na verdade eu sei, mas vou deixar pro fim. Mas, tava na cara mesmo, você já deve ter se ligado, pq sei que vc não é bobo.

Claro, não sou tão burro e pensei; “Ah! Pode ser que sejam vários cargos”, Inoceeeeeente. Como estou acostumado a escrever, logo preenchi a ficha, mas tive soube que teria de esperar todo mundo terminar para que algo começasse. Eu estava fudido. Já tava a fim de meter o pé, mas como eu estou na merda já referida, resolvi ficar e ver no que ia dar.

Uma hora depois chega uma moça, que deve ser mais nova que eu, e começou a tal dinâmica, realmente, vários cursos diferentes concorriam as mesmas vagas, tinha Administração, Publicidade, Marketing, só não tinha Direito e Medicina pra não dar muito na pinta.

Bom, contaram uma história bonita sobre a trajetória da merda da loja (pra ver se ganham algum consumidor otário no meio daquele circo), e veio um vendedor idiota babar ovo da empresa pra que buchas quisessem seguir seu caminho de 13 anos na mesma empresa, de como ele entrou como estagiário e hoje tem um cargo de chefia, e frisou bem quanto dinheiro dá pra ganhar naquela “mãe” que é a tal empresa.

Estranho, pq acho que a finalidade do estágio é aprender e conhecer profissionais para começar sua a ter suas ligações na área, e não pra só sair ganhando dinheiro, assim de cara. Por tudo isso, mais o fato de eu ter trabalhado com bancos durante alguns anos, eu já estava mais ainda de culhões cheios daquele papo de imbecil.

Pra pior a sina, colocaram um vídeo chaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaato sobre a história da empresa, e eu segurava a cabeça pra não despencar de sono no chão.

Depois a moça (gostosinha por sinal) repetiu todos os tais beneficios e disse o seguinte:


“No contrato nós vamos escrever que são seis horas pra faculdade assinar, mas o estágio é de oito horas, a empresa sabe do esforço do estagiário, sabe que é uma carga horária puxada, mas ela valoriza vocês!” BWAH-HA-HÁ-HÁ-HAA! Cara de Pau, né?

Cara, eu continuei me segurando na cadeira, tava foda, mas continuei. O pior todos pareciam estar prestando muita atenção naquela merda toda, como se estivessem entrando numa mega empresa, foi quando as pessoas começaram a se apresentar e eu comecei a entender algumas coisas...

As pessoas ali não eram como posso dizer... Mal de situação econômica, mas porque aceitavam aquilo? Me perguntei em alguns momentos, alguns até viveram no exterior, mas, nessa apresentação, acho que peguei o motivo; uma parte parecia ser aquele tipo de aluno merda, que só paga a faculdade, turista, etc., outra parte nunca trabalhou e já estava ficando velha pra começar a trabalhar, então qualquer merda vale, portanto que não os tire o fim de semana, e a outra parte estava o pessoal de administração, que é um curso, que pelo menos aqui no Rio, o estágio está muito banalizado, e eles acabam tendo que se sujeitar a qualquer vaga que mecha com números, como vendas, por exemplo.

Eu não me encaixo nesses perfis, eu já tenho uma boa experiência de trabalho, sou um aluno esforçado e tal, e tava muito bolado.

Foi quando a moça deu o golpe final, uma provinha de matemática e de redação... Matemática? Eu estou me preparando pra criação, pra que vou fazer prova de matemática. Entendam, eu não sou tão burro, poderia fazer e porra da prova, mas aquilo era a maior prova que não tinha nada haver eu estar ali, porque se fosse um estágio pra minha área, ela me pediria um outro tipo de teste, que demonstrasse minha capacidade de criar, ou algo assim, e o pior, a porra da prova era desclassificatória, ou seja, o pessoal de administração que realmente mecha com números estava na vantagem, se não estivessem, mereciam estar mesmo brigando pela aquela merda de vaga de “estágio”.

Eu ainda expliquei a situação pra garota, e expliquei pra ela, que se fosse pra avaliar o pessoal de Comunicação, ela deveria dar ênfase a prova de redação. Mas, não, o principal era a matemática, depois a redação.

Ali, não deu mais pra agüentar, porque mesmo se eu ficasse numa vaga, eu estaria ME enganando, afinal eu não estaria fazendo estágio, eu estaria trabalhando sem carteira assinada, numa coisa que não ia me ajudar em nada na carreira que eu quero e que estou correndo atrás pra caralho. Eu não ima aprender as técnicas da publicidade e nem quando a gente deve usar a intuição, eu não ia conhecer publicitários já na área, ou seja, não tinha motivo.

Entreguei a prova pra ela, agradeci, e disse que não ia fazer. Ela me perguntou o por quê, e eu disse que não tinha na haver comigo, ela não satisfeita disse, que todo processo seletivo tem isso. Pó dizer isso logo pra mim, que já fui chefe, que já cuidei de RH, que sou macaco velho, se fosse uma empresa foda... Mas, pra ser algo que eu não preciso fazer como estagiário. Naquele segundo da minha vida, eu pensei em como poderia falar sobre a sacanagem que estava havendo ali, sobre minha experiência e sobre o que quero da vida e como aquilo era uma perda de tempo, porém, eu não queria me extressar, não queria estragar a felicidade de quem achou aquilo bacana e porque ela era gostosinha e a gente nunca sabe o dia de amanhã, eu só repeti; “Não tem nada haver comigo”.

Não sei se você tem a mesma percepção que eu de que era um emprego sem carteira assinada não declarado, e para compensar as oito horas, eles aumentaram a bolsa-auxilio (mas, nada pra algo exorbitante, só é mais do que costuma ser) e deram benefícios para deixar a parada mais atraente, afinal, o cara pensa; “vou estagiar mais tempo mais vou ganhar mais”.

Pra mim não colou, porque eu quero, agora, acima de tudo aprender, infelizmente, alguns colegas aceitam essa situação, o que banaliza ainda mais os estágios pra quem realmente quer aprender.

Vou dar um exemplo pra você entender, o que sinto quando um colega aceita um falso estágio, um fato que aconteceu mesmo com um colega meu que era DJ de uma pequena casa de show que tinha aqui no Méier.

Esse meu colega ganhava uma merreca pra tocar nas festas da casa final de semana, algo em torno de cinqüenta, cem reais. Merreca mesmo, ele tocava bem, ai, chegou um puto do nada, e disse que tocaria no lugar do meu colega, e em troca, ele só queria uma pizza por noite...

Bom, acho que você já sabe o que aconteceu.

Enquanto tiver gente querendo pouco, continuará havendo empresas só querendo dar pouco em troca de muito. Não tem jeito.

E deveria haver uma fiscalização do governo em cima dos estágios, como há com os trabalhadores de carteira assinada, porque ta foda! Mau caráter sempre dá um jeito de fazer malandragem.

Se você está correndo atrás de estágio, tente se valorizar, assim você não se prejudica e nem aos seus colegas.

E se você é um diretor de arte, ou alguém bondoso que queira me dar um estágio de publicidade (perdoe meu linguajar chulo e erros de concordância e português) e me manda um chamado para lincnery@bol.com.br

Valeu, e Ramithures, pra todos vocês!

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